Os
acidentes envolvendo motos já são a principal causa de ocorrências de trânsito
no país, ultrapassando os atropelamentos de pedestres. Atualmente, mais de
metade das internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são de motociclistas,
que respondem por três quartos das indenizações do Seguro Obrigatório de Danos
Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT). O dado
foi divulgado durante o 1º Fórum Nacional da Cruz Vermelha Brasileira sobre
Segurança Viária, que marcou o início da Semana Nacional do Trânsito, na última
sexta-feira (18), pelo médico Fernando Moreira, especialista em medicina do
trânsito e conselheiro da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros
do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). “As motos mudaram o padrão da
mortalidade, com a expansão muito forte da frota de motos nos últimos dez
anos, e hoje a principal vítima no
trânsito já é o motociclista. O pedestre era historicamente quem mais sofria no
trânsito, agora é o motociclista. Há vários fatores que incidem diretamente
nesta utilização maior das motos, que é um veículo com um risco maior agregado
do que um veículo de quatro rodas”, disse Moreira.
O
médico também chamou a atenção para a dispensa de itens obrigatórios de
segurança, como capacete e calçado fechado. Além disso, ele denunciou que, em
muitas cidades do país, principalmente no interior, é comum as pessoas
pilotarem moto sem terem documento de habilitação. “Lamentavelmente, em nosso
país, não se usa um item obrigatório, que é o capacete. Muitas pessoas sequer
tem habilitação para andar de moto. Em alguns locais do interior do país, 60% a
70% das pessoas não são habilitadas para dirigir moto, não conhecem minimamente
a legislação de trânsito”.
O
representante da Cruz Vermelha Brasileira, José Mauro Braz de Lima, consultor
do Departamento Nacional de Educação e Saúde da entidade, também alertou: “É
inaceitável o nível de mortes e feridos nas estradas. O que o Brasil hoje deve
estar atento é que, sendo o país mais mata no mundo em relação ao acidente de
trânsito, tem que ter uma atitude constante para isso. Temos que criar uma
força-tarefa, em um programa de governo, como foi feito na França, para que
tenhamos um modelo de atenção sistêmica”, sugeriu José Mauro.
Segundo
dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), citados pela Cruz Vermelha, no
mundo todo, 1,3 milhão de pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito. No
Brasil, de acordo com a Cruz Vermelha, são 50 mil mortes anuais e 500 mil
feridos nas ruas e estradas dos país, o que representa 25 mortes por 100 mil
habitantes. O representante da organização também sugeriu o aumento de recursos
investidos em campanhas educativas e preventivas, utilizando percentual de
multas de trânsito, como já é previsto na legislação. A entidade defende um
programa baseado em cinco passos: informação, educação, conscientização,
fiscalização e penalização.
De
acordo com estatística do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o país
tinha uma frota de 23 milhões de motocicletas em 2014, o que correspondia a 27%
da frota nacional. Apesar das motos representarem pouco mais de um quarto da
frota, o seguro DPVAT pagou, em 2014, 580 mil indenizações, o que correspondeu
a 76% do total. Deste, 4% foram por morte (22.616 casos), 82% por invalidez
(474.346) e 14% por despesas médicas (83.101).
(Com Radiobrás)
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